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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Sobre a Brevidade do Ser Humano


Antes do Natal vi na internet um concurso de micro-relato, a final do concurso seria dia 30/12/2008. Resolvi participar. Era dia 25 de dezembro, eu estava sem muito o que fazer e resolvi escrever um micro-relato, o prazo para envio era o dia 26/12/2008 ao meio dia.

É claro que não fui classificada. Por várias razões, sendo a principal: eu não sei escrever pouco.
O micro-relato é um conto ou história que tem de ser escrita com no máximo 100 palavras. Em 100 palavras tenho de introduzir, desenvolver e concluir a história a ser contada.

Cheguei a conclusão que nunca conseguirei essa proeza, pois não sei ser breve. Entretanto também me fez perceber a necessidade de ser breve, pois hoje as pessoas não tem tempo a perder lendo algo longo, hoje os textos devem ser breves, pequenas histórias que sejam atraentes desde o ínicio. Meu conto até era atraente, mas carecia de envolvimento e emoção. Eu havia feito um relato descritivo.

Então percebi porque nao gostei da biografia de Paulo Coelho, O Mago, escrita por Fernando Morais. Gostei especialmente da vida de Paulo Coelho e cheguei a conclusão que se ela tivesse sido escrita por ele mesmo, seria atraente, envolvente e emocionaria os leitores. O que Fernando Moraes fez, como excelente jornalista que é, foi a descrição da vida de P.C., faltou vivenciar, sentir, "se colocar no lugar do outro".

Também descobri porque gosto de leituras como El Andarillo de las Estrellas e Martin Eden de Jack London ou, De Profundis e O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde, ou ainda o "obsceno" Incesto de Anaïs Nin. O meu gosto literário é pelo real, pelo que realmente foi vivido, foi sentido, foi idealizado, foi sonhado e, não por descrições dessensibilizadas ou por verdades rudes. Adoro a poesia, porque a vida é poesia, independente da crueza com que seja vivida.

A vida é poesia, cabe saber contar e escrever a própria poesia. Oscar Wilde em De Profundis rechaça Sir Alfred Douglas (seu amante, que também atendia pelo nome de Bosie), fala do ser mesquinho, desprezível, alienado e egoísta que era Bosie, mas o faz com uma grandiosidade, beleza e profundidade de sentimentos que é percebível por quem lê, podendo inclusive ser sentida a dor que Wilde sentiu ao escrever. Wilde jamais poderia ser simplório ou medíocre para falar de seus sentimentos e suas angústias. Seus escritos são de uma grandeza que somente um "dândi" como ele poderia produzir. Contudo, o que mais me dói sobre a vida de Wilde é que, mesmo sabendo que Bosie representava sua destruição, tenha seguido adiante no romance com ele, mas isso já seria outro história, sobre quem escolhemos para amar, sobre quem nos enaltece e quem nos afunda.

Anaïs Nin e Henry Miller também rechaçam June (a esposa de Henry), a colocam como mesquinha, carente de atenção, viciada, promíscua e louca. Porém, sem o romance de Anaïs com June e da relação turbulenta entre June e Henry, talvez Anaïs e Henry não tivessem produzido tanta literatura. Justificaria, o desespero que tomou conta de Henry depois que June o deixou, desespero que, mesmo tendo Anaïs e, acreditando amá-la, não poderia suprir. Anaïs não era June, ele precisava das duas. Henry dependia da vida turbulenta com June para ser Henry. Anaïs dependia de June para sentir-se forte. Henry necessitava das discussões e de humilhar June para sentir-se superior. Anaïs precisava se sentir boa e generosa o suficiente para estar sempre perdoando June. Falso autruísmo, mas a verdade é que nos rendeu literatura gratificante e humano-existencial suficiente.

Nenhum homem é capaz de escrever sobre a vida de outro tão bem quanto ele próprio. Não sei escrever micro-relatos, não sou capaz de ser breve. Gosto de delirar, elucubrar, pensar sobre cada vida, de ser eu mesma e ter a sensibilidade para "me colocar no lugar do outro".

Entretanto, em nenhuma destas obras é tão visível o sofrimento humano como "El Andarillo de las Estrellas" de Jack London. London consegue "enxergar-se" de fora. Consegue fazer acreditarmos que todo o sofrimento de sentir-se preso, isolado, acusado de algo que não cometeu, desmerecedor do amor, felicidade, esperança e bem aventurança, não tenha acontecido com o próprio London, mas com os personagens de seus livros.

Alguns seres humanos fazem isso quando o sofrimento é além do que poderiam suportar, veem-se de fora, como se tudo o que tivesse acontecido não fosse com eles, mas com outro, que é a parte de si que não quer sofrer. Outros, como Wilde, camuflam a verdade, escondem-na atrás de romances com personagens inventados, que nada mais são do que personagens da vida real do autor, ou ainda, as várias faces de um único homem.

Outros ainda, podem ser Anaïs Nin, relatar o que viveu, com quem viveu, como viveu, onde viveu, o comprometimento é consigo e com a verdade, mas não necessariamente a verdade que foi vivida; pode ou deve, ser exposta, principalmente quando essa verdade implica outros seres humanos.

Aqui encerro minha história de hoje, para não me tornar tão extensa que chateie aos poucos que leem meus escritos.

Meta para 2009: Aprender a ser breve!


by Patifa



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